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Jurado do 'Bake Off Brasil', Fabrizio Fasano solta o verbo sobre política, paternidade e hipocrisia

michellekaloussieh

14/08/2017 16h24

Fabrizio Fasano Jr. (Foto: Angelo Pastorello)

 

Era grande a expectativa em torno da estreia da terceira temporada do programa "Bake Off Brasil", do SBT, que aconteceu nesse sábado (12). Não se sabia como o afastamento da apresentadora Ticiana Villas-Boas – por conta do envolvimento de seu marido, Joesley Batista, no escândalo de corrupção que atingiu o presidente – iria afetar a atração, que teve bom desempenho nas edições anteriores, garantindo o segundo lugar no horário.

Mas parece que o coração do programa está mesmo na bancada do juri, já que a estreia cravou 10 pontos de audiência – a média das temporadas anteriores. Mais especificamente, na persona do jurado mal-humorado, sincerão e por vezes indelicado "interpretado" por Fabrizio Fasano.

Sem nenhum preparo profissional na área, mas conhecedor das coisas boas da vida, Fabrizio usa essa experiência de glutão – ele chegou a pesar 170 quilos – para avaliar os preparos. Sem papas na língua, ele admite que tem um pouquinho de exagero nos comentários desfavoráveis. Mas afirma que não é um personagem: "Eu sou assim, sou conhecido por isso. Se quiser saber minha opinião sobre o que for, é só perguntar". Parece que o tipo faz sucesso: "Sou o malvado favorito".

Nesta entrevista, segue no estilo metralhadora giratória, não importa o assunto: corrupção, paternidade e a hipocrisia do brasileiro. Confira:

Blog do Amaury Jr.: Você não é chef e não tinha experiência nessa área até entrar para o "Bake Off". Você se sente preparado para julgar?

Fabrizio Fasano: No "Bake Off" todo mundo sabe que não sou chef, sempre deixei claro. Defendo a tese de que teoricamente tive oportunidade de experimentar na minha visa coisas que muitos chefs não experimentaram. Não estou ali para dar minha avaliação técnica, e dizer se põe mais fermento ou menos fermento, mais farinha ou menos farinha, que é a função da confeiteira que está comigo, porque são dois jurados. Estou ali como uma pessoa que conhece as coisas e ponto.

Blog do Amaury Jr.: Um connoisseur?

Fabrizio Fasano: É. Eu sei te dizer se uma sobremesa é boa ou ruim, ate porque minha referencia é essa, né? Tô acostumado a comer bem a vida inteira. Eu faço várias receitas, mas não sou chef. Eu gosto, mas de cozinhar pra 6, 7 pessoas. Quer fazer um risoto pra 40 pessoas? Não, obrigado, vai ficar uma merda.

Blog do Amaury Jr.: Esse é o tipo de coisa que você fala para os participantes do programa. Você faz de propósito, ou é mal-humorado mesmo?

Fabrizio Fasano: Sou o malvado favorito. Eu sou assim, não existe ali um personagem. eu sou super crítico. Tem um leve exagero, um pouquinho sempre tem. Mas a princípio eu jamais vou falar pra você aquilo que não acho. Se quiser saber minha opinião sobre algo, é só perguntar. Meus filhos reclamam: "Porra pai, mas você só fala do que eu faço de errado!". Não preciso ficar elogiando o que já faz certo. Presto muito mais atenção no que está errado do que no que está certo. E o programa, no final das contas, é pra isso, né?

Blog do Amaury Jr.: E faz sucesso…

Fabrizio Fasano: O público gosta. No começo, eles me odiaram. No começo, chamei um negócio de cocô de cavalo. Nossa, virou um agá minha vida… Foi o primeiro programa, eu estava morrendo de medo, não sabia de nada. Já tinha feito um programa de TV, mas não como jurado de um reality.

Blog do Amaury Jr.: Você já foi economista, publicitário, fotógrafo… Como acabou na TV?

Fabrizio Fasano: É uma poesia esse filme. Eu queria ser médico, não fui, aí trabalhei com meu pai, mas não era feliz, aí fui ser publicitário, era um saco, sou formado e tenho pós em economia. Quando tinha 30 anos, queria ir pra Nova York fazer o Actor's Studio. O Ricardo van Steen ficava na minha orelha: "você tem que ser ator, você tem uma beleza diferente". Aí ele me convidou pra fazer esse filme, "Noel, o Poeta da Vila". Eu tava enorme, pesando 170 quilos – peso 115 hoje. Sempre tive essa veia artística. Trabalhei 12 anos em publicidade, fui um puta executivo de publicidade, viajava 240 dias por ano, ia fazer reunião em Bangkok de três horas e voltava, chegava no final do ano tinha 500 mil milhas pra gastar.

Blog do Amaury Jr.: E o que mudou?

Fabrizio Fasano: Ganhava um caminhão de dinheiro na época, mas aí meus filhos nasceram, eu não conseguia entender eles crescendo. Eu sempre fui um cara muito ligado a eles, mas não só na coisa do carinho, do amor, mas do ser pai. Estar presente, ensinar, participar da vida deles. Quero estar junto, quero ver crescer, quero ensinar a andar de bicicleta, a andar de patins. Tinha comprado um sítio em Sorocaba, levava às vezes um monte de criancinhas. Porque, por incrível que pareça, tem pais que estão cagando, né? Não veem a hora de levar embora. Então tinha amiguinho que ia quase todo fim de semana. Mas comecei a sentir muita falta disso. Chegou num ponto que ficava 10, 15 dias viajando. Um dia grudaram na perna e começaram: "Quando é que você volta? Por que demora tanto pra voltar?". Naquele dia eu mudei, falei: "Não é isso que eu quero pra mim. Isso vai me deixar rico e infeliz".

Blog do Amaury Jr.: E como está sendo fazer o programa sem a Ticiana? O que mudou pra vocês?

Fabrizio Fasano: É uma coisa que me entristece muito, porque adoro ela. Não mudou nada, praticamente. A Carol tá fazendo o trabalho dela superbem feito, a Beca, que assumiu o papel da Carol, tá fazendo um trabalho superbem feito. O programa é líder de audiência em 36 países, tá sendo feito de uma maneira primorosa pelo SBT.

Blog do Amaury Jr.: A que você credita esse sucesso?

Fabrizio Fasano: Talvez o mercado esteja mais carente, porque chef tem um monte, já virou moda. Todo mundo acha que ser chef é ser o Alex Atala. É uma puta vida de merda, os caras trabalham que nem um filha da puta, sábado, domingo, segunda, terça, quarta… Carregam peso, suam… mas é uma puta profissão.

Carol Fiorentino, Ticiana Villas Boas e Fabrizio Fasano Jr. (Foto: Reprodução Instagram)

Blog do Amaury Jr.: E os negócios da família, como vão?

Fabrizio Fasano: Esse mercado de alto luxo brasileiro, de serviço, tá passando por uma fase bem difícil. Pessoas que vinham quatro vezes por mês passaram a vir duas, quem vinha duas vem uma. O Rio de Janeiro acabou [a rede Fasano abriu em 2014 seu primeiro hotel no Rio]. Tem um monte de coisa lá e um monte de coisa aqui. O que você ganha aqui você perde lá, é um problema.

Blog do Amaury Jr.: Como vê a situação econômica atual?

Fabrizio Fasano: O Brasil é um país quase milagroso. Mesmo com esse monte de merda acontecendo, a economia ainda dá sinais de que quer melhorar. Mas temos uma classe política que não dá nem pra falar… Hoje eu estava num programa, falei que político ladrão virou redundância, porque não existe um que não seja. E os caras ficaram me olhando, porque o dono deve ser o mais. Acho o Brasil de uma hipocrisia…

Blog do Amaury Jr.: Por que exatamente?

Fabrizio Fasano: Vamos pegar um caso típico, o Joesley Batista. 90% das pessoas que vejo meterem o pau nele são menos competentes do que ele, porque roubaram, são ladroes – se bem que ele não roubou, ele foi corruptor, é diferente -, mas foram tão corruptos quanto ele e não conseguiram fazer o dinheiro que ele fez. As grandes fortunas desse país, nenhuma foi feita à base da cartilha, da Bíblia, nenhuma. E fica todo mundo sentando o pau [no Joesley]. Agora, se ele tivesse pego o telefone e ligado pra uma meia dúzia deles uma semana antes de sair a delação, e esses caras tivessem vendido ou comprado dólar e tivessem ganho bilhões, ele ia ser deus pra todo mundo. O cara não paga pensão da mulher, fura fila, pega vaga de idoso, e só porque não ganhou dinheiro, acha que pode.

Blog do Amaury Jr.: As pessoas justificam os pequenos atos de corrupção com a falta de justiça do país, ou com o fato de que todo mundo faz…

Fabrizio Fasano: Olha, vou falar uma coisa… Meu pai trabalhava à noite, minha mãe ia pra fazenda com meus irmãos mais cedo e eu ficava esperando ele, e ia dirigindo o carro dele. Com 14, 15 anos, pegava a Castelo Branco. Quantas e quantas vezes ele não desceu do carro pra comprar guarda? Eu tenho certeza absoluta de que ele jamais pensou que estava me dando um exemplo de corrupção. Eu passei minha vida corrompendo guarda na estrada. Eu era amigo dos caras, mandava garrafa de uísque pra eles e viajava a 250 por hora. Vou ser hipócrita e dizer que se, há 20 anos, meu pai tivesse tido a oportunidade, porque conheceu eu um filha da puta de um presidente da república que sentou na frente dele e disse: "Sou o cara mais corrupto do mundo, se você me arrumar dinheiro eu dou o que você quiser", ele ia falar não?

Blog do Amaury Jr.: E você, ia falar o quê?

Fabrizio Fasano: Eu provavelmente ia falar sim. Porque naquela época ninguém sabia desse risco. Mas hoje é diferente! Se a gente quer mudar o país… Eu não tô falando que tá certo! Não tô falando que concordo, e que as coisas têm que continuar assim. Se ele [Joesley] não tivesse feito isso há 15 anos, que já era uma empresa grande – ele faturava R$ 4 [bilhões] e hoje fatura cento e não sei quanto, alguém ia ter feito! Vamos combinar que não só esse mercado, como o de commodities, é uma baixaria generalizada. É assim que ele foi criado, que o pai dele foi criado, que o avô dele foi criado. Tá certo? Não, tá tudo errado! Mas daí pra ele virar o bandido número 1? E isso me chateia por causa da Tici, que acabou entrando no processo. É marido dela, é pai do filho dela, acho que tá com toda razão, vai falar o quê? "Ai, não sabia, vai à merda"? Ela provavelmente não sabia de muita coisa, ninguém sabia, nem a agenda do Temer sabia!

Blog do Amaury Jr.: E qual a sua posição política?

Fabrizio Fasano: Sempre fui apolítico. Pega um Collor de Mello, que já foi impitimado, e volta a ser senador, caralho! Esse cara há cinco anos tinha um puta poder de novo. José Sarney! Dá até pra entender, porque era aquela coisa do coronelismo, mas o tempo foi passando, a internet chegou. É isso que me deixa irritado. Somos um paisinho de merda. Como a Venezuela, que tá pagando por ter eleito o cara não sei quantas vezes. O mundo tá passando por um processo também, você vê um Trump ganhar uma eleição, é uma coisa chocante. Mas vamos combinar que, por pior que esse Trump seja, ele jamais vai ser um vigésimo do escroto que foi esse Lula.

Blog do Amaury Jr.: Por quê?

Fabrizio Fasano: Porque ele teve todo o poder na mão, todo o dinheiro, teve toda a chace de fazer desse país um país de primeiro mundo, e literalmente destruiu essa merda. Na base do populismo, de manter o poder. Se tivesse feito as coisas certas, estaria no poder até hoje. Você já viu essa Gleisi falando? Defendendo o Maduro? Não é possível, essa mulher tem que ser presa.

Blog do Amaury Jr.: Não precisa ir até a Venezuela…

Fabrizio Fasano: Quem tem dúvida de que [o presidente Nicolas Maduro] é um escroto? Já provou que é um imbecil incompetente. Não é que não sou um cara político, e acho que sou errado nisso. O bacana de você estar na mídia é poder ajudar naquilo que você fala, naquilo que você traduz, nas pessoas que você entrevista. Você vai formando opinião na cabeça das pessoas. Quando falo alguma coisa, as pessoas me ouvem. Óbvio que não sou nenhum Luciano Huck, nenhum Faustão, mas é a minha maneira de ajudar, que que eu posso fazer?

 

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Sobre o autor

Amaury Jr. é jornalista e apresentador de TV. É o mais conhecido colunista social do Brasil e considerado o criador do colunismo social eletrônico no país, onde mantém um programa de TV há 39 anos ininterruptos.

Sobre o blog

O blog traz notícias, bastidores e informações exclusivas sobre quem é assunto no showbiz, na cultura, na política, nos negócios e em todas as rodas sociais.

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