As batidas perfeitas
Da Redação
26/08/2021 18h09
Vale reproduzir aqui as observações de Ruy Castro sobre batida perfeita, a propósito da morte de Charlie Watts, o baterista dos Rolling Stones. Era um jazzista, mas tocar rock foi seu grande desafio com uma sonoridade muito sofisticada. Sobre bateristas que contam, vale o registro de Ruy:
Charlie Watts.
"Morreu em Los Angeles um baterista chamado Earl Palmer. Tinha 84 anos e era considerado o inventor da batida do rock and roll na bateria. Quando se escutam as gravações originais de "Tutti frutti" ou "Good Golly, Miss Molly", com Little Richard, e "The fat man" e "I'm ready", com Fats Domino, todas dos anos 1950, a bateria é ele.
Palmer inventou a batida do rock and roll, veja bem, não o infame pancadão ou bate-estaca a que ela seria reduzida no futuro. Na verdade, apenas adaptou o "back beat" – em que, no compasso 4/4, o primeiro e o terceiro tempos são fortes, e o segundo e o quarto, fracos – àquela variação de rhythm and blues que se cozinhava em sua cidade, New Orleans.
Se foi uma adaptação ou uma criação original, não importa. O fato é que foi Palmer. Se os bateristas recebessem 0,0001% de royalties toda vez que um músico usasse um ritmo ou batida criado por eles, haveria menos bateras pobres no mundo. Palmer nunca recebeu royalties e passou a vida trabalhando. Por sorte, seus patrões eram Frank Sinatra, Ray Charles, Dizzy Gillespie e B.B. King.
Outro baterista, Kenny Clarke, inventou a batida do bebop. Em 1942, ele libertou as peças da bateria tornando-as entidades independentes. Também não fez jus a royalties nem ficou rico, mas, pelo menos, passou seus últimos trinta anos de vida em Paris.
Ninguém mais injustiçado, no entanto, do que o nosso Milton Banana. Em 1957, ao lado de João Gilberto, ele criou nada menos que a batida da bossa nova na bateria. Morreu em 1999, aos 64 anos, pobre, com uma perna recém-amputada, e ainda teria sido pior se não fossem os amigos. Com Banana, se lhe pagassem 0,0000001% de royalties toda vez que alguém fez a batida da bossa nova, ele poderia ter vivido 100 anos sem nunca pensar em dinheiro."
Sobre o autor
Amaury Jr. é jornalista e apresentador de TV. É o mais conhecido colunista social do Brasil e considerado o criador do colunismo social eletrônico no país, onde mantém um programa de TV há 39 anos ininterruptos.
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