Histórias do arquivo XXVIII
Morte anunciada
A página de obituários nos jornais sempre teve bons índices de leitura. Todo mundo quer saber quem se foi, se há algum conhecido. Há leitores que têm curiosidade mórbida. Outros vão lê-la para fazer cálculos de quanto tempo lhes sobra, espiando as idades, fazendo uma média e comparando com a sua. Uma forma de tentar entender os mistérios matemáticos da vida. Em Nova York é a forma mais eficiente de se procurar apartamentos vagos.
Fazer obituários é uma tarefa preventiva no jornalismo. Quando se fareja que algum famoso vai partir, encomenda-se uma retrospectiva de sua vida, levantam imagens, fica tudo prontinho para o day after. É o que se chama no jargão das redações de morte anunciada, deixar pronto um texto para entrar no ar assim que o óbito é confirmado.
O departamento de jornalismo pediu a Marcos Hummel, então na Globo, que redigisse o necrológio de Magalhães Pinto . O notório político estava mal após um derrame. Magalhães contudo não se foi. Estava debilitado, mas resistiu, foi melhorando. Dias depois, nova recaída, Hummel fez uma atualização do necrológico.
A semana foi de expectativa. Porém, mais uma , duas ou três vezes, até que o velho político se equilibrou e acabou vivendo por mais dez anos. Marcos Hummel conta que, entre chefes e chefetes que o mandaram fazer o obituário extemporâneo de Magalhães, dois acabaram morrendo antes dele. E sem necrológio prévio.
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